Mais de mil educadores estão reunidos em Fortaleza para discutir o atual modelo de educação e pensar em novas formas de ensinar crianças e jovens. O debate é inspirado na obra do filósofo e sociólogo francês Edgar Morin, que falou ontem (21) para uma plateia entusiasmada.
Morin defende que é preciso mudar a forma de ensinar para que seja possível enfrentar os atuais desafios do mundo. Ele critica a fragmentação do conhecimento em disciplinas e a falta de conexão do aprendizado com a realidade.
Esse conceito também é compartilhado pela Organização das Nações Unidas para Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), que promoveu o evento em Fortaleza em parceria com a Universidade Estadual do Ceará (Uece).
O representante da Unesco no Brasil, Vincent Defourny, aponta que todo o mundo está pensando na reforma dos sistemas de ensino, mas que a tarefa é mais fácil em locais como o Brasil, onde o modelo de educação que atenda às atuais necessidade do país ainda está em construção. Em entrevista à Agência Brasil, Defourny afirma que é preciso buscar uma escola que reflita a realidade dessa geração.
Agência Brasil: A obra de Edgar Morin indica que é necessário transformar o ensino para que crianças e jovens possam enfrentar os atuais desafios do mundo. Como isso se aplica de forma prática na escola?
Vincent Defourny: Para que o pensamento de Morin seja realidade é preciso um conjunto de coisas. É necessária uma transformação profunda na forma de ensinar, na forma de trabalhar na escola, na interação com a comunidade. E como se faz isso exatamente? É importante motivar os educadores a imaginar coisas a partir dos sete saberes de Morin, aprender a lidar com a criatividade, com as incertezas, com as conexões múltiplas do ensino com o mundo. Acho que dá para fazer muitas coisas já no marco da grade curricular e nas atividades extraclasse. Mas colocar o pensamento de Morin em prática, ao pé da letra, é uma revolução.
ABr: Morin critica a fragmentação excessiva do conhecimento e defende que o ensino deve fazer a conexão entre as várias disciplinas para que o aprendizado faça mais sentido. Como transformar isso, já que no Brasil temos um currículo bastante fragmentado?
Defourny: O caminho disciplinar que foi desenvolvido por Descartes, de dividir para trabalhar melhor, deu certo e ajudou muito para que se tivesse um conhecimento mais avançado em cada área. Mas hoje é muito interessante ver que os pesquisadores de ponta em cada uma de suas especialidades dizem que precisamos conectar aquele conhecimento bem específico com questões neurológicas ou do meio ambiente. Temos que ter uma dialógica: ao mesmo tempo ter o conhecimento disciplinar e o transdisciplinar. O importante é desenvolver a habilidade de ter um conhecimento preciso, forte e rigoroso, mas ser capaz de conectar.
ABr: Hoje o ensino nas escolas não está muito descontextualizado e distante da realidade do aluno?
Defourny: De forma geral, acho que a lógica da aprendizagem é bastante longe da realidade dos jovens e das crianças. Precisamos olhar mais para a complexidade da realidade e da vida para ter a capacidade de analisar. Seria muito interessante desenvolver um trabalho em sala de aula a partir da novela ou do videogame que a criança brinca. São elementos que fazem parte da vida dela, mas que ao mesmo tempo daria para fazer reflexões, trabalhar o conhecimento científico e as opiniões.
ABr: Quando o aluno não vê sentido ou aplicação prática naquilo que aprende, quais consequências isso pode ter na trajetória escolar?
Defourny: Se o ensino é muito descolado da vida ou das experiências das crianças elas mesmas desqualificam o ensino por sua falta de relevância. No momento de estudar o conhecimento científico, o professor tem que fazer o link entre a vida cotidiana e os materiais, o meio ambiente. O mundo está cheio de exemplos. As melhores formas de ensinar a ciência são aquelas que permitem colocar a mão na massa. Esse tipo de coisa permite avançar no pensamento mais complexo, de não limitar o mundo a uma realidade estreita.
ABr: Durante a abertura do seminário, os alunos que fizeram uma apresentação e disseram que queriam “uma educação que se pareça mais com a nossa geração”. É isso o que falta?
Defourny: Achei muito linda essa expressão, isso significa realmente uma educação que fala em nome de sua realidade. E a realidade de uma criança, hoje, no século 21, em Forteleza ou em outro lugar do mundo, tem pouco a ver com a educação de uma criança da Europa no fim do século 19 que foi a matriz do modelo, do tipo de sala de aula e de educação de hoje. Por isso é preciso uma transformação na educação para que ela seja muito mais próxima da realidade desses jovens, que incorpore elementos como a televisão, a internet e os videogames. Porque as crianças estão aprendendo muitas coisas com essas ferramentas, elas também são espaços de aprendizagem. Mas a escola não reconhece isso, trabalha pouco essas possibilidades.
ABr: E como deve ser essa escola do futuro?
Defourny: Dá para imaginar uma escola do futuro muito mais aberta. Fisicamente, sem as grades, mas também conceitualmente aberta para seu entorno, com aulas fora da sala de aula, seja para o ensino da ciência, da história ou da geografia. Incorporando a internet não só para as aulas de informática, mas para aproveitar essas ferramentas fantásticas que dão acesso a múltiplos conhecimentos com a reflexão.
Agência Brasil: A obra de Edgar Morin indica que é necessário transformar o ensino para que crianças e jovens possam enfrentar os atuais desafios do mundo. Como isso se aplica de forma prática na escola?
Vincent Defourny: Para que o pensamento de Morin seja realidade é preciso um conjunto de coisas. É necessária uma transformação profunda na forma de ensinar, na forma de trabalhar na escola, na interação com a comunidade. E como se faz isso exatamente? É importante motivar os educadores a imaginar coisas a partir dos sete saberes de Morin, aprender a lidar com a criatividade, com as incertezas, com as conexões múltiplas do ensino com o mundo. Acho que dá para fazer muitas coisas já no marco da grade curricular e nas atividades extraclasse. Mas colocar o pensamento de Morin em prática, ao pé da letra, é uma revolução.
ABr: Morin critica a fragmentação excessiva do conhecimento e defende que o ensino deve fazer a conexão entre as várias disciplinas para que o aprendizado faça mais sentido. Como transformar isso, já que no Brasil temos um currículo bastante fragmentado?
Defourny: O caminho disciplinar que foi desenvolvido por Descartes, de dividir para trabalhar melhor, deu certo e ajudou muito para que se tivesse um conhecimento mais avançado em cada área. Mas hoje é muito interessante ver que os pesquisadores de ponta em cada uma de suas especialidades dizem que precisamos conectar aquele conhecimento bem específico com questões neurológicas ou do meio ambiente. Temos que ter uma dialógica: ao mesmo tempo ter o conhecimento disciplinar e o transdisciplinar. O importante é desenvolver a habilidade de ter um conhecimento preciso, forte e rigoroso, mas ser capaz de conectar.
ABr: Hoje o ensino nas escolas não está muito descontextualizado e distante da realidade do aluno?
Defourny: De forma geral, acho que a lógica da aprendizagem é bastante longe da realidade dos jovens e das crianças. Precisamos olhar mais para a complexidade da realidade e da vida para ter a capacidade de analisar. Seria muito interessante desenvolver um trabalho em sala de aula a partir da novela ou do videogame que a criança brinca. São elementos que fazem parte da vida dela, mas que ao mesmo tempo daria para fazer reflexões, trabalhar o conhecimento científico e as opiniões.
ABr: Quando o aluno não vê sentido ou aplicação prática naquilo que aprende, quais consequências isso pode ter na trajetória escolar?
Defourny: Se o ensino é muito descolado da vida ou das experiências das crianças elas mesmas desqualificam o ensino por sua falta de relevância. No momento de estudar o conhecimento científico, o professor tem que fazer o link entre a vida cotidiana e os materiais, o meio ambiente. O mundo está cheio de exemplos. As melhores formas de ensinar a ciência são aquelas que permitem colocar a mão na massa. Esse tipo de coisa permite avançar no pensamento mais complexo, de não limitar o mundo a uma realidade estreita.
ABr: Durante a abertura do seminário, os alunos que fizeram uma apresentação e disseram que queriam “uma educação que se pareça mais com a nossa geração”. É isso o que falta?
Defourny: Achei muito linda essa expressão, isso significa realmente uma educação que fala em nome de sua realidade. E a realidade de uma criança, hoje, no século 21, em Forteleza ou em outro lugar do mundo, tem pouco a ver com a educação de uma criança da Europa no fim do século 19 que foi a matriz do modelo, do tipo de sala de aula e de educação de hoje. Por isso é preciso uma transformação na educação para que ela seja muito mais próxima da realidade desses jovens, que incorpore elementos como a televisão, a internet e os videogames. Porque as crianças estão aprendendo muitas coisas com essas ferramentas, elas também são espaços de aprendizagem. Mas a escola não reconhece isso, trabalha pouco essas possibilidades.
ABr: E como deve ser essa escola do futuro?
Defourny: Dá para imaginar uma escola do futuro muito mais aberta. Fisicamente, sem as grades, mas também conceitualmente aberta para seu entorno, com aulas fora da sala de aula, seja para o ensino da ciência, da história ou da geografia. Incorporando a internet não só para as aulas de informática, mas para aproveitar essas ferramentas fantásticas que dão acesso a múltiplos conhecimentos com a reflexão.
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